GEORGE STEINER
Um grande erudito, Bruno
Snell, escreveu um trabalho importante, onde ele dizia que a descoberta da personalidade, a descoberta
do Ego, foi feita pelos gregos. Não aconteceu em outras culturas. Ego, egoísmo,
egotismo, a psique do indivíduo diante do espelho: invenção grega. Os outros
dizem, escuta, não exagere, todos os homens na Terra tem um subconsciente que a
grosso modo é semelhante. Nós não sabemos. Eu penso que há uma história dos
sonhos, por exemplo, que os sonhos dos gregos antigos, ilustrados em seus
poemas, em sua literatura, em Plutarco, em seu tratado de sono e sonhos, já são
sonhos que se assemelham aos nossos, o
seguimento dos nossos sonhos, é grego. Nós sabíamos isso antes de Freud. Freud,
claro, tem imenso valor nessa relação entre o mito grego e os sonhos. O que era
o inconsciente para os gregos? Sócrates chamou isso de seu daimon, uma voz que vem do
interior dele mesmo nos momentos mais difíceis e perplexos. É uma voz interior,
não a luz interior do século dezessete, mas o daimon, o irracional. Os
gregos conhecem os mitos terríveis sobre duplicação e esquizofrenia – outra
grande descoberta grega – quando nós somos possuídos por outro em nós mesmos, as
palavras mesmo de Rimbaud “eu sou um outro”, é quase uma tradução do
pré-socratismo grego, no sentido da possessão, da daimonia por um outro. Qualquer coisa surgiu, ali, nesta luz
imensa do dia, que acentuou a noite, o mistério da noite.
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